Conheci ela no arrasta pé do Galo Preto. Quando vi aquele corpo lindu desimbestando ao som de Banda Calipso, aqueles zóios de cearense obríqua e dissimulada, fiquei foi enfeitiçado. A tal da paxão bateu forte no peito, e o meu coração pulô pra fora igual bóde na grama verde adepois da chuva.
Num demorô muito e nói já tava ingatado, um num largava do ôtro, a gente se via toda semana no Galo Preto. Aliás, quase toda. Volta e meia ela inventava umas história de encanador, ou que iam pintar a casa dela.. Eu achava estranho isso num sábado à noite, mas era minha Edileusa.. Ahh, minha querida EliDeusa…
Eu tinha 29, ela 21, e foi nessa época que a gente si casô. Vivêmo muita coisa junto, arrastamo todos os pé, trabaiâmo pra ter nossa casinha, inté fizemo plano de ter nosso Raimundim.. e foi aí que tudo disandô. Eu sempre achei esquisito a quantia que ela se esfregava co irmão, Ednaldo. Até um dia peguei o desgraçado de cueca na minha cama, e sentei-lhe o coro. Mais o probrema foi memo quando eu vi a cara do Edvan.. que era pra ser meu bichim, meu Raimundim, tinha a cara lavada e cuspida do desgraçado do Ednaldo.
E foi aí que nóis terminamo. Não foi fácil. Até me embestei e tentei descontar a raiva na base da pinga, e depois em Edileusa, mais nada adiantou. Chegamo a se enfiá num desses pograma de tevelisão, mais só serviu pa iludi mais a gente.
Esse ano o Edvan começa ir à escola, segundo minhas contas. Já faiz 5 ano que voltei simbora pro Ceará, e num tive mais notícia nem do mininu nem daquela zóiuda. Foi paixão que vevemo junto, foi disgraça que se disgraçamo junto, e hoje só me amola saber se aquele bacuri era ou num era meu. Mais agora, com a sua licença, vou amuntando meu cavalo, que tá na hora de encontrar cos companhêro.
Este texto foi composto como parte do processo de criação do personagem “Valdecir”, o bêbado corno, para a peça “A Tela e A Cela”, da qual participei no Curso Ator de teatro.